Como vencer a carência

 

Para ouvir

 

16 minutos

 

Para imprimir o texto

 

 

 rev

OBSTÁCULO DIFÍCIL NOS RELACIONAMENTOS

 

O carente representa um obstáculo bastante difícil nos relacionamentos, cobra as pessoas com as quais se relaciona como se fossem responsáveis por sua carência. Não assume sua responsabilidade, adota o papel de vítima e acredita que a vida é um processo de sorte e azar.

É importante entender como a carência surge e como superá-la para que deixemos de ser carentes nos relacionamentos e quando encontrarmos pessoas nessa condição sabermos como lidar com as situações que surgem.

 

CONTRIBUIÇÃO DE ERMANCE DEFAUX

 

Ermance Defaux, no capítulo 15 de seu livro “Mereça ser feliz”, oferece importante contribuição.

 Diz ela: “A carência é um estado íntimo de insatisfação que surge da privação de alguma necessidade pessoal cujo principal reflexo é o sentimento de infelicidade”.

“Na ótica afetiva é um processo de desnutrição que pode ter-se iniciado na infância e até mesmo em outras encarnações. Advém de desejos recalcados, expectativas não colimadas, frustrações não superadas...”.

“A maior carência humana é de afeto e carinho, sem os quais mais ninguém se sente humanizado. E não se sentir humanizado significa permitir a influência dos reflexos primitivos que açulam a ganância e a crueldade provenientes do instinto de conservação exacerbado.”

 

Ermance cita também várias situações que podem dar origem as carências.

 

 “Uma delas pode ser encontrada na ausência de preparo para lidar com as perdas. Na Terra não se prepara a criança para lidar com a perda. A educação é quase toda destinada a fazer ‘campeões sociais’ vitoriosos em tudo. Pais frustrados tentam se realizar no sucesso de seus filhos, exigindo deles o que não conquistaram, tentando consertar erros e fracassos através da criação de um ‘super-herói’ dentro de casa”.

“Pela pressão dos responsáveis pela educação, as habilidades inatas são desconhecidas ou desconsideradas. Aqueles de psiquismo frágil que aspiram a ideais diferentes das imposições sucumbem em comportamentos desajustados no vício ou no desequilíbrio dos costumes como forma de encontrar alguma gratificação e prazer a título de compensação”.

 “Crianças muito mimadas ou recompensadas excessivamente para cumprirem os seus deveres querem tudo o que desejarem na vida adulta, inclusive o afeto alheio, e para isso mascaram-se de mil modos no jogo das aparências como se estivessem em uma disputa da qual jamais admitem sair perdedores”.

 “Outras carências surgem como ilusões da vida moderna estimuladas pela mídia e pelos costumes...”.

“As matrizes profundas da carência podem ser encontradas no subconsciente. É o vício milenar de exigir e esperar ser amado sem disposição altruísta suficiente para amar. Resulta de uma construção lenta e gradual com bases no egoísmo”.

“O carente, em verdade, é um doente que deseja ardentemente amar sem conseguir. Não conseguindo, passa a exigir ser amado, criando relações complicadas e frágeis; é alguém à míngua de amor, um constante cultivador da esperança de ser compensado”.

“A carência surge quando desconectamos o mundo dos sentimentos daquilo que realmente preenche e gratifica, priorizando o falso conceito de realização estipulado pela sociedade”. 

 

Cabe destacar pela importância a afirmação de Ermance:

 

“Nada na criação foi criado com carências, tudo de fato foi criado para pulsar para fora.”

 

PULSAR PARA FORA

 

Para uma trajetória adequada com a carência podemos partir de uma situação em que haja a dependência e busquemos fora como suprir nossas necessidades emocionais e afetivas, porém é necessário que entendamos que nós mesmos somos os supridores de nossas carências.

Por nossa educação e através de considerações encontradas nas religiões, fica a impressão que as pessoas só podem se realizar na medida em que recebam dos outros o atendimento das carências.  Numa parte de nossa vida é razoável que seja assim, pois se tomarmos a fase infantil a criança não tem como suprir suas necessidades materiais e tampouco ela entenderia como é que poderia lidar com suas carências emocionais e sentimentais. É justo que possamos oferecer o melhor em favor das criaturas que estejam nesta condição.  Entretanto, a educação da criança – e mesmo do adulto - deve permitir perceber que a trajetória correta é aquela que vai levá-los da dependência para a independência.

Quanto às carências materiais, não existe dificuldade para se perceber que a qualificação para o trabalho é a forma mais comum para que a autossuficiência seja alcançada. A busca de habilidades profissionais deve ser acompanhada por interesse permanente de aperfeiçoamento para acompanhar as novas possibilidades oferecidas pelo desenvolvimento do conhecimento.

No tocante às nossas carências emocionais e sentimentais, ainda está muito presente a visão que ao nos unir às pessoas elas irão suprir as nossas necessidades de sermos amados e considerados.  Isto é ficar na condição de dependência, mas há a possibilidade de conquistar a independência tanto em relação aos recursos materiais e também atender as necessidades emocionais e sentimentais. Para isso é necessário considerar que fomos criados para pulsar para fora.

Isto está inteiramente de acordo com o ensinamento que diz que devemos “amar o próximo” que é doação por nossas ações, palavras e pensamentos.

Pela “lei da semeadura” vamos compreender que a colheita para atender às carências de natureza emocional e sentimental vai se concretizar através da semeadura.

As carências desaparecem pela colheita obtida pela semeadura que é o “pulsar para fora”, não se cobra mais dos outros esse resultado.

 

UM PEQUENO EXEMPLO

 

Um pequeno exemplo que permite pensarmos um pouco sobre  como suprir nossas carências.

Ao realizar uma tarefa em casa ou no local de trabalho é muito comum ouvir das pessoas que o seu empenho não é reconhecido nem valorizado. Ficam decepcionadas e aborrecidas pela ausência de consideração. Esperam receber de fora o que deve ser encontrado no interior.

Agir da melhor forma possível é atender ao ensinamento que sugere fazer ao outro aquilo que se quer para si mesmo. Isso é fazer o bem, fonte permanente de satisfação interior. A consideração e valorização por aquilo que é feito nunca faltarão para aquele que pratica a “lei de ouro”. A busca exterior leva a  frustrações, pois o reconhecimento pode não acontecer.

Será mais provável o reconhecimento externo quando a satisfação é percebida naquele que faz. Criaturas desse tipo irradiam satisfação e não se dedicam a cobrar o reconhecimento dos outros.

 

AGRADAR OS OUTROS

 

Quando prevalece a imposição de agradar os outros, fica mais difícil a valorização interior daquilo que é feito. Muitas vezes há constrangimento para fazer o que não se quer ou coisas cuja finalidade ou importância não é compreendida.

As pessoas são portadoras de vocações e tendências que podem favorecer a trajetória de vida, mas quando surgem as expectativas de familiares e outros é possível que forcem a realização de seus desejos sem respeitarem as potencialidades naturais. Esse desvio quando  acatado  é para agradar os outros mesmo que provoque desconforto interior, são os chamados “sacrifícios”.

 

A MELHOR OPÇÃO

 

O amar a si mesmo, contido no mandamento de amar o próximo, permite cogitar que aquilo que fazemos deve fortalecer nossa autoestima e não necessariamente agradar os outros pelo acolhimento de seus desejos.  A autoestima é base para o autoamor que, por sua vez, traz a qualificação para amar o próximo. Fazer o bem segundo o princípio da “Lei de ouro” de fazer aos outros o que queremos para nós é a melhor opção.

Fazer o bem é a boa semeadura que tem como principal resultado a nossa felicidade. Não somos responsáveis e nem capazes de assegurar a felicidade dos outros.  Podemos, é certo, amparar e auxiliar as pessoas quando em condição de dependência ainda não superada, sem, contudo, promover a permanência desse estado.  Mais do que o auxílio é importante o esforço, para que as pessoas se libertem da dependência e alcancem a independência.

 

A INTERINDEPENDÊNCIA

 

No relacionamento entre pessoas independentes é possível a convivência harmoniosa como interindependentes. Todos fazendo aos outros aquilo que querem para si mesmos sem vinculação de dependência. Interindependência é a convivência entre pessoas independentes.

 

Interindependente é independente com reciprocidade.

 

 Vencer a carência pelo “pulsar interno” é um passo fantástico para nos habilitarmos de uma maneira competente nos relacionamentos.

 

 

 

 

Para ouvir

 

16 minutos

 

Para imprimir o texto